quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Novo espaço



Amigos,
Estou com um site novo divulgando meu trabalho artístico.
Na verdade não há um site antigo, este é o primeiro. Conto uns causos e divulgo eventos.
Dêem uma olhada no Causo do Gauinho... Esse é muito bom.

Aproveito para convidá-los para uma agradável noite com música caipira raiz no DEPOIS BAR&ARTE em Sorocaba dia 17/10 a partir das 21:00h.
Abraços a todos,
Arlindo Lima


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Travessia: descrições e ensinamentos por Juliana Simonetti




Acabo de ler “Travessia”, da Juliana Simonetti, que narra sua aventura ao refazer montada numa mula a viagem de 10 dias que Guimarães Rosa fez em 1952 e que inspirou seus grandes clássicos “Grande sertão: Veredas” e os livros da obra “Corpo de Baile”.


Tive a impressão que o objetivo inicial da autora era principalmente jornalístico, descrevendo os lugares, a jornada e entrevistando as personagens que ainda estão vivas naquele sertão desde o tempo da viagem original. Mas ela foi muito além. “Nascia ali uma vaqueira” – como ela mesma afirmou. Não por ter desenvolvido surpreendentemente em 10 dias todas as habilidades de vaquejar, mas sim por ter sentido na pele os contrastes de chuva e sol, risos e silêncio, companheirismo e solidão, fartura e sede, leveza na alma e dores no corpo que um vaqueiro experimenta em seu dia-a-dia. 


Dessa forma também a linguagem jornalística acabou dando lugar a muita poesia, e da boa, como pequenas flores do campo que crescem nas frestas das calçadas de cimento e acabaram tornando a narrativa da Juliana cheia de uma beleza peculiar, proporcionando risos e lágrimas a poucos parágrafos de distância.


Ela conclui: “O sertão me ensinou que a gente cresce quando volta a desaprender. Mostrou que a hora certa pra acordar é antes de estrela ir dormir. Que água gelada de córrego revela a quentura da alma. Que montado a passo de mula, o pensamento voa longe(...)”


Conclusões de uma excelente vaqueira. Excelente escritora...


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Prosa madura de criança



Há 2 dias eu estava no sofá assistindo TV com minha filhinha (3 anos). Era um filme de animação que contava a história de um peixinho que ao desobedecer seu pai era capturado por pescadores. Apesar de a proposta, ao meu ver, ser de um filme infantil, a cena da separação foi forte, carregada de emoção, tanto que minha filha veio pro meu colo.


- Papai, ele não vai mais ver o papai dele?


- Eu não sei, filha, vamos ver o que vai acontecer... Mas você viu o que dá desobedecer o papai? É por isso que o papai sempre te pede para ser obediente, pra nada de mal acontecer a você, né?


- É...


- Você promete que nunca mais vai ser desobediente? – perguntei tentando usar a desgraça do pai-peixe ao meu favor.  Ela parou por uns instantes e me respondeu:


- Papai, é que eu não consigo ser sempre obediente... mas eu vou tentar, tá bom?

(...)


Porque nós adultos não somos assim?! Seria tão mais fácil se todos agíssemos com a maturidade da minha filhinha de 3 anos! Mas não, para que reconhecer nossas limitações?!

Isso me faz lembrar Jesus dizendo que para entrar no seu reino é preciso ser como uma criança...


Gravamos a canção “Descomplicado” no Cd Por entre os dedos, em 2011. Deixo pra vocês com interpretação do amigo Jorge Camargo. Fala desse mesmo assunto.

Abraços a todos!

 Descomplicado

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Nossa Música Brasileira




Da esquerda para a direita: Marcel Bottaro (contrabaixo), Paulo Leme (acordeão) e Arlindo Lima (viola)
 No último dia 31/8 estivemos tocando no festival “Nossa Música Brasileira”, em Arujá-SP.


Evento muito legal, com vários amigos de estrada presentes também tocando para um público extremamente singular. Gente de todos os cantos do Brasil apreciando toda a diversidade da música do nosso povo.


Estive novamente acompanhado do Marcel Bottaro (baixo acústico) e Paulo Leme (acordeão), com destaque para a participação de Marivone Lobo e Diego Venâncio, cantando comigo a balada “Pela luz das estrelas”. O público recebeu muito bem. Percebi alguns emocionados nessa parte do show.


Quero parabenizar os organizadores deste evento e deixo aqui meus votos para que mais pessoas tenham coragem de investir em iniciativas como esta!


Parabéns ao pessoal de Arujá e obrigado a todos que estiveram lá nos prestigiando!


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O causo do bidê





Já falei aqui da minha admiração pelo meu pai, Sr Renato Lima, e quem me conhece sabe o quanto ele influencia minha vida. Mas nunca falei muito sobre sua personalidade: É muito complexa! Todo mundo que o conhece diz que sua vida e seus causos dariam um livro. Acho que se eu fosse escritor já estaria com esse projeto em andamento rsrsrs. Mas por hoje, basta dizer que o cidadão é muito, muito chucro (apesar de sábio), bronco (apesar de justo) e sem papas na língua (apesar de verdadeiro). Acontece que quando tem que falar algo a alguém, sinto muito se vai doer, mas ele fala mesmo! Toda essa introdução foi porque este é um causo que se passou com ele.


Lá pelos anos 80, meu pai estava na fazenda de um antigo pecuarista no sul do Pará, de quem costumava comprar bezerros desmamados, o Sr. Sílvio. O serviço era pesado, a fazenda muito grande, de modo que eram necessários vários vaqueiros para buscar o gado no pasto e fazer a apartação, tanto que além dos funcionários do Sr Silvio era preciso contratar também diaristas para aqueles dias.


No fim da tarde, todos muito cansados foram dormir na sede da fazenda, uma construção antiga desprovida de luxos mas acolhedora. Os numerosos vaqueiros se instalavam em redes na varanda e poderiam usar as instalações internas, enquanto meu pai, Sr Silvio e outros poucos dormiriam nos aposentos da casa.


Lá pelas tantas o Sr Silvio resolveu ir ao banheiro, quando viu o vaqueiro Tião saindo de lá. Tião era um diarista que nunca tinha trabalhado naquela fazenda. Quando Sr Silvio entrou no banheiro, viu que o vaqueiro tinha feito um baita “serviço sólido”, só que não no vaso sanitário, como o esperado, mas sim dentro do bidê!!


Como eu disse, a construção era antiga, com bacia de sanitário e bidê. Quase não vemos mais bidê nos banheiros modernos... E o coitado do Tião, nunca tinha visto um bidê na vida! Deve ter chegado apertado no banheiro, naquela urgência danada, viu duas bacias de louça praticamente iguais, fez um “mamãe-mandou” e mandou ver!


O pior não foi isso! O Sr Silvio por não ter muita intimidade com o Tião, vira pro meu pai e diz: “- Ôô Renato, você que é mais jeitoso que eu, fala com o Tião porque, olha aqui, ele cagou o bidê até a boca...”

O meu pai, que por sinal também tinha conhecido o Tião naquele dia, imediatamente dispara a gritar: “- Tião, seu f.d.p., vem aqui ligeiro no banheiro seu cagão! E trate de limpar esse bidê pois o lugar de cagar é o outro vaso!”


Meu pai conta que o vaqueiro ficou tão desesperado que sujou as mãos tentando limpar rápido sua sujeira... coitado...


O que me deixa mais intrigado nessa história é o julgamento do Sr Silvio em achar que meu pai era “mais jeitoso”: ou ele estava sendo irônico ou ele era ainda mais chucro que meu velho... Vai saber, né?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um elogio verdadeiro


A coisa mais fácil do mundo é tecer um elogio falso. Aparece aquela pessoinha não muito simpática com quem você é obrigado a conviver e pergunta: “Gostou do meu corte novo de cabelo, Arlindo?” Aí não tem jeito, vai no automático um elogio qualquer, tipo: “Ficou bunito pra burro, heim?”

A gente que toca recebe muitos elogios, mas é fácil perceber os que são mais pra cumprir uma formalidade do que o de alguém que realmente se identificou com o seu trabalho.

Nestes últimos dias recebi dois elogios involuntários (e ao mesmo tempo voluntários!) que não deixam dúvidas sobre sua legitimidade.

Um foi do meu pai. Estávamos no trânsito. Mais especificamente, parados no trânsito. O assunto era alguma coisa séria, mas nada grave... Ele fez uma pausa em seu discurso, se distraiu, olhou pela janela do carro e cantarolou “Ser feliz é muito simples bem aqui no meu sertão(...)” – o início da canção “Muito simples” do CD Cavalo do tempo. Olhei pra ele e ri. Pensei comigo: Putz, valeu o CD inteiro...

O outro foi de um lindo garotinho chamado Felipe. Seu pai é um compadri muito querido, e me mostrou no celular o vídeo que segue no link. Tenho filhos desta idade e nem a Galinha Pintadinha – com todas as suas cores – consegue fazê-los se expressar desse jeito... Isso sim é um grande elogio!



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Meu pé de Kinkan





Quando adquirimos a nossa terrinha ele já estava lá. Eu chamava seu fruto de “laranjinha”. Foi minha amiga Sara Muller que me disse: “Que legal! Você tem um pé de kinkan em seu pomar!” e assim me apresentou formalmente ao Fortunella margarita.


A despeito da tendência natural humana de acrescentar um ponto ao conto, serei honesto: meu pé de kinkan não é uma Brastemp. Já adubei seu pé, já tentei tirar umas pragas que vivem aparecendo em seus galhos, mas ele não aumenta sua produção. 


Toda vez que chego na nossa terrinha, depois de cumprimentar as pessoas e os animais, vou dar uma olhadinha pra ver se tem alguma laranjinha madura. Na maioria das vezes acho umas 2 quase boas. Às vezes tem umas verdes que não dá pra tirar do pé e muito, muito raramente acho aquela preciosidade, amarelinha como um canarinho da terra e docinha como um favo que, sem nem sequer assoprar, ponho na boca e me delicio. 


O interessante é que já virou uma atração à parte para mim o suspense do momento em que me aproximo da arvorezinha... “O que será que o pé de kinkan tem pra mim hoje?”


Estou suspeitando que nossa vida seja como esse pé de kinkan. Temos que saber apreciá-la como ela é. Mesmo que não esteja sempre repleta de deliciosas frutas maduras, teremos que saber nos contentar com algumas laranjinhas quase boas. Às vezes teremos que saber esperar pra poder colher. A verdade é que muito raramente teremos o deleite de um glorioso fruto de ouro, seja ele uma vitória, uma notícia, um reconhecimento, um relacionamento, um negócio, etc. Ter a expectativa certa sobre a árvore da nossa vida nos livra da decepção de achar que poderíamos ter frutas em escala industrial a partir de um pezinho de kinkan. Essa decepção se alastra como uma praga daninha e causa a doença que é o mal deste século, a depressão.


Preciso continuar adubando e curando minha arvorezinha, mas sei que o mais importante é manter a satisfação de poder passear ao seu redor e poder olhar com cuidado no interior de seus galhos procurando algum fruto que eu possa degustar e oferecer aos meus queridos.